A chegada em Lamarão foi surpreendente. Já tínhamos visto fotos da estação abandonada, mas em nada as fotos se pareciam com o que estávamos vendo ali de perto. É um cenário incrível. Uma grande extensão da linha de trem enferrujada contrastava com os dormentes assentados em pedras brancas. A linha vai até onde a perdemos de vista. Ali, me lembrei exatamente da poesia de Manoel de Barros, quando tentava fotografar o silêncio. Eu tentei, e como o poeta já disse, não é nada fácil. Como capturar a solidão dos mandacarus que resolveram crescer no telhado na antiga estação? Como traduzir em imagem o desejo deles de alcançar o céu? Dentro do filme, já sabíamos que Lamarão estaria de alguma forma, mas ainda não sabemos como. O que sinto, é como se ali fosse possível abrir um intervalo no espaço do filme para mostrar um outro tempo que prescinde do passar das horas. E aqui vou eu falando de tempo mais uma vez. Os mandacarus que nasceram no telhado da estação em Lamarão são um instante perdido no tempo.
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