Sobre o filme

Lindeiras é um filme que trata do sertão, histórico e também mítico, que aos poucos perde espaço e se desfaz. O nome Lindeiras é a designação utilizada décadas atrás para as cidades situadas às margens das linhas de trem. É através desse percurso, por trilhos enferrujados e esquecidos, que faremos uma viagem ao interior do sertão baiano, de Alagoinhas à Juazeiro, para olharmos com cuidado as paisagens e pessoas que compõem esse universo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O cinema e o trem em Lindeiras - Nota sobre o filme


Lindeiras é fruto da confluência de muitos desejos: o de abordar o universo mítico do sertão, materializado dentre tantas expressões pela poesia de Ascenso Ferreira, uma das primeiras e mais fortes referências para o filme, sem, no entanto, reviver seus arquétipos já sedimentados; de pensar o filme através de uma linha tênue entre o poético e o factual, o mítico e o histórico, deflagrada pela memória afetiva das personagens; de buscar as sugestões que os contextos e personagens reais propiciam para construção de uma narrativa que possibilite vivenciarmos diferentes temporalidades que formam a atualidade dos lugares e pessoas do filme. E reunindo tudo isso, a vontade de fazer um filme poético que seja uma experiência de imersão nos sentimentos e ambiências que também compõem esse lugar tão fortemente marcado, que é o sertão.
O filme põe conjuntamente a estética de acompanhamento da ação de personagens fortemente utilizada pelo cinema direto americano, dos anos 1970, com experiências poéticas mais recentes, como a utilização das vozes inteiramente em off, e a construção das cenas sem que houvesse um predomínio nem de uma espontaneidade inocente e inalcançável, nem de uma encenação claramente pró-fílmica. Tal junção de estéticas me parece aliar o fluxo da viagem ao fluxo da memória, criando espaços ora consonantes ora dissonantes entre o que ouvimos e o que vemos. Lindeiras busca um equilíbrio que possibilite fluidez, que convide o espectador a embarcar num trem imaginário e vivenciar os sentimentos e sensações do que foram e do que são as cidades Lindeiras.
A idéia de dois tipos diferentes de registro conduziu as escolhas do filme. O cotidiano encenado em função de suas metáforas possíveis. A diferenciação fotográfica marcando de forma sutil algumas das passagens entre as duas vertentes de construção poética. Dimensões diferentes formando-se de maneira simbiótica, sem que suas diferenças fossem evidenciadas, mas sim suas ligações, suas simbologias...

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O trem é certamente o maior símbolo da revolução industrial. Que é responsável não apenas pelo cinematógrafo, mas também pela mudança nas formas de percepção que precederam a vertigem do cinema. Talvez não seja à toa o fato da primeira imagem em movimento projetada pela maravilhosa invenção dos irmãos Lumière ser justamente a cena de um trem chegando numa estação. Duas grandes invenções, interligadas. A viagem de trem como uma espécie de primeiro cinema, e o primeiríssimo cinema nos assustando com a imponência do trem.
Esse é o termo que acentua a grande disparidade dos locais por onde passamos em Lindeiras: imponência. Como em qualquer lugar, o empreendimento ferroviário se impôs no sertão baiano transformando pequenas vilas em cidades, interligando populações isoladas, mudando por completo a dimensão de vida das pessoas. Mas como que por uma patologia genuinamente brasileira: “aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”! E esses mesmos lugares que mobilizaram, atraíram, marcaram as pessoas e cidades Lindeiras são hoje o próprio abandono, o lugar do esquecimento.
Há ali uma memória poderosa! Era o que sempre me vinha ao ver a bela estação de Serrinha, terra da família de minha mãe, onde não nasci mas também faço parte. Imaginava, antes da pesquisa, quantos lugares tão sugestivos não teríamos no trajeto que ligava o rio São Francisco ao mar da Baía de Todos os Santos. E foi com essa curiosidade que conhecemos a estação de São Francisco em Alagoinhas, de dimensões impensáveis, ou a estação do antigo distrito de Lamarão, hoje cidade, que cultiva cactos no que lhe restou de teto. Fora Juazeiro, que numa estranha sobreposição do próprio discurso de desenvolvimento que fez chegar o trem, traçou uma ponte por cima de sua estação com feições de catedral. Um percurso de riqueza inesgotável, absurdamente abandonado... E foi assim, transitando num terreno de extremos, cuja dimensão temporal parece ser revelada por vestígios, por restos, é que foi feito o filme Lindeiras.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cartaz Lindeiras

Cartaz feito por Daniel Wildberger, mais um parceiro importantíssimo e amigo de longas datas. Dele também a animação do letreiro do filme.

Para quem quiser ver mais coisas de Daniel:

http://www.danielwildberger.com


Filme na Lata


Mixagem _ Meios e Mídia (RJ)

Uma agradável coincidência colocou Cláudio Valdetaro no nosso caminho. Amigo de longas datas de Pedro, formou conosco uma parceria também afetiva. A sua longa experiência em mixagem, além da sua formação musical, garantiu ao filme a qualidade sonora que tanto buscávamos. Do estúdio saímos com o print rumo à cópia em 35mm. Frio na barriga.



Finalização de imagem e Transfer_ Link Digital (RJ)

A Link era uma parceira natural do Lindeiras. Já conhecia e aprovava a competência, seriedade e a gentileza com que todos tratam os clientes por lá. No Lindeiras, partirmos para uma temporada de pós-produção, para voltar abraçadinhos à cópia em 35mm. Contando com a equipe da Link Digital tudo deu super certo. Com uma antecedência de um dia no cronograma, o transfer foi enviado à Labocine para revelação. No dia 11 de agosto, finalmente, fomos aprovar a cópia junto com Ricardo Zemelewics, responsável pelo transfer.
Muito felizes, com a cópia na mão, tinha chegado a hora de voltar para casa.

Finalização


Montagem

Desde o surgimento da idéia do filme que Tina Saphira é a montadora oficial. Cumplicidade, competência e sensibilidade que já lhe renderam vários prêmios por longas e curta-metragens. A expectativa de encontrar um caminho sugerido pelas imagens era grande. O roteiro indicativo pedia para ser abandonado. Agora começava uma nova etapa.


Trilha Sonora e Edição de som

A interlocução musical do Lindeiras ficou a cargo de Pedro Augusto Dias, compositor e instrumentista. A cada trecho de trilha sugerido, uma surpresa emocionante. Além da música, editou também o som direto. Nos acompanhou no processo de mixagem, sempre com dicas e um ouvido precioso.



terça-feira, 19 de abril de 2011

Vicente Sampaio


Enquanto todas as fotos não vêm, vamos dando um gostinho do trabalho do querido Vicente Sampaio, parceiro de longas datas.









A nossa trupe


O Lindeiras foi surgindo de mansinho, de encontros casuais ou de desejo de encontros. A estação de Serrinha, o vaqueiro, o sertão (vermelho como um tição), a vontade de realizar um projeto que não delimitasse suas fronteiras entre a realidade e o sonho. Ao longo das muitas etapas de depuração, escrita, novas pessoas foram sendo convocadas para o devaneio das cidades Lindeiras. Aqueles com quem sempre pensamos em trabalhar, os que são cúmplices para qualquer obra, outros que sequer sabíamos que integraria essa jornada.

Agora, com o material filmado em mãos, temos um grande orgulho da equipe que se reuniu para fazer do Lindeiras um imaginário poético muito além da poesia dentro de nós.



Da esquerda para direita:

Pernambuco, Delmar, Pedrinho, Simone, Tenille, Carol, Diego, Tina, Bruno e Vicente

quarta-feira, 13 de abril de 2011